O dramaturgo Mário Bortolotto toca blues com sua banda Saco de Ratos. Na última terça-feira ele tocou no Club Noir.
Eu não sabia disso.
Quem me mantém informada sobre o que o Bortolotto anda fazendo por aí é a minha roomate Ana C. Ela sempre me fala dos shows da Saco de Ratos, mas nunca fomos assistir porque nossas quintas-feiras (dias dos shows que a Ana C descobria) estão comprometidas com atividades bizarramente diferentes: Ana C participa de uma grupo de estudo de Lacan e Ana M (eu) participa de um grupo de estudo de dança do ventre.
Sobre mim: lá pelos idos dos anos 90 meu pai foi para o Canadá a trabalho e comprou uma garrafa de Chivas Regal. Ela vinha com um brinde muito apropriado: um CD com “The Best of Ella Fitzgerald”. Não tínhamos aparelho de CD, mas eu amava ficar abrindo e fechando a caixinha e olhando o encarte bordô com fotos preto e branco.
Acho que isso durou quase um ano, até meu pai comprar um aparelho de CD e eu poder descobrir como soavam aquelas fotos. Nunca tinha escutado nada parecido. Era tempo das 7 Melhores da Jovem Pan, do meu pai escutando Canto Gregoriano (não sei que onda era essa, mas naquela época ele só ouvia música clássica e Zamfir. Só quando virei adulta ele revelou que o negócio dele sempre foi Rock Progressivo. Vai entender).
Aí eu que já era uma adolescente tímida, gordota, de aparelho nos dentes, mais alta que os meninos e sem nenhum traquejo social, passei a curtir Ella Fitzgerald. Se eu morasse em Londrina e o Bortolotto já estivesse tocando provavelmente eu seria considerada cool, mas lá em Criciúma… não. #mimimi
A partir da Ella fui conhecendo mais Jazz e Blues, e foi um caminho sem volta. Lá no sul não é tão fácil encontrar lugares para curtir um som assim, mas aqui em São Paulo achei muita coisa interessante. Gostei do Teta, do Bourbon Street e do Camarim37 (antigo Jeremias o Bom), mas são lugares mais jazz. Ainda faltava o blues, escuro, sujo, amargo, bêbado e gostoso.
E aí voltamos para este post, propriamente dito. A Saco de Ratos, do Mário Bortolotto.
Ana C botou a maior pilha para aproveitarmos que haveria uma apresentação na terça, véspera de feriado, para finalmente conhecermos a banda, mas na última hora desistiu.
Eu já tinha comprado a idéia e por sorte a Pris também, então marcamos de nos encontrar lá. Aproveitei para descer a Augusta inteira a pé, com calma, só curtindo a loucura que é essa rua, um caldo primordial de gente, música, estilo, cultura e sexo.
Lá no comecinho da rua, no número 331, vejo a Pris sentada na muretinha do Club Noir, cansada de me esperar.
Talvez por eu ter andado mais de 2km pra chegar até o Club Noir, minha primeira impressão do lugar é que ali faz muito calor. Muito mesmo. Tomamos uma cerveja que não estava muito gelada e o meu humor estava péssimo quando o show começou, para as vinte pessoas presentes.
Com os primeiros acordes puxados do baixo e a voz rasgada do Mário lembrei como eu gosto disso tudo. Uma música após a outra fui relaxando, sentindo e ficando feliz. É um som bom demais, não se compara com nada. As letras são ótimas e a banda excepcional. O público foi aumentando à medida em que as horas passavam. Horas.
Posso afirmar que o que eu mais gostei da experiência toda foi ver uma banda que tem tesão de estar ali tocando. A música seguiu noite dentro, com improvisos quando um deles tinha que levantar para ir no banheiro e pequenas pausas para o cigarro. O show foi praticamente ininterrupto das 23:30 às 4:30. Tem como não amar?
As pessoas que chegavam interagiam umas com as outras, dançavam e ficava todo mundo em um transe bom. Acabou aparecendo bastante gente, mas achei que uma apresentação como essa merecia muito mais público. Gosto de pensar que a banda está tocando só pra mim, mas cadê prestígio?
O show que começou tranquilo, com os músicos sentados, foi ganhando energia com o tempo e o uísque. A atriz Fernanda D’Umbra fez uma participação incrível na música Nossa Vida Não Vale Um Chevrolet, tema da peça homônima. Fomos ao delírio.
Grande noite.
Ainda fomos até o Estadão comer o famoso sanduíche de peru da madrugada antes de ir embora, mas isso é outro post. ;)
Na terça que vem a Saco de Ratos toca no “The Wall” na Treze de Maio, e volta a tocar no Noir no dia 01 de Novembro (outra véspera de feriado). É a chance da Ana C. :)
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