A ciclofaixa é montada todos os domingos pelas ruas de São Paulo. O horário de funcionamento é das 7 às 16h, e o trajeto abrange vários bairros da cidade. É basicamente uma ciclovia montada com cones.
São quase 150 quilômetros de faixas e a cada domingo 100 mil ciclistas aproveitam para passear por São Paulo.
Você pode acessar todos os trajetos no site da ciclofaixa. Eu pedalei o trecho sul-oeste, saindo do Ibirapuera, cruzando o Rio Pinheiros e subindo em direção ao parque Vila Lobos.
Agora senta que lá vem a história!
Acontece que eu sou uma péssima, PÉSSIMA companhia para andar de bicicleta e aprontei altas confusões com o amigo que estava pedalando comigo. Não sei como ele não me estrangulou.
Vou contar tudo para vocês.
Bom, tudo começou na minha infância – adolescência. Eu só tinha amigos meninos e a gente passava o verão inteiro andando de bicicleta como uns retardados. Fazíamos pistinhas de obstáculos, corridas, íamos até as cidades vizinhas.
Eu já andei muito em areia fofa, em estrada de lama em dia de temporal, com o vento contra jogando a bicicleta para trás. Já fui atacada por corujas, já me enrosquei no arame farpado, já pulei cercas mais altas do que eu e joguei a bicicleta para dentro para invadir propriedade privada e tomar banho de lagoa. Já arranquei a pele do dedinho pé, carimbei “havaianas” no peito do pé, já tive um roxo que tomava a coxa inteira e levou meses para sair.
Isso resultou que eu não sei andar de bicicleta como uma moça. Se eu subo em uma viro o Pateta Motorista (lembra desse desenho?) e quero sair acelerando loucamente.
Um dos meus grandes prazeres de estar viva, aliás, é sentir o vento na cara quando eu estou pedalando na velocidade máxima que minhas pernas aguentam.
Eu já estava há meses, anos até sem andar quando o meu amigo convidou para conhecer a ciclovia. Fiquei animadíssima, enfiei um tênis, pequei uma mochila com água e barrinha de cereal e fomos. Ele parou em uma travessa estreita perto do Ibirapuera e alugamos nossas bicicletas. Eu nem prestei atenção em nada, só queria subir logo e sair andando.
Meu amigo informou que havia aprendido a andar de bicicleta recentemente e começou a pedalar lenta e cuidadosamente.
Fiquei em estado de choque. Por um lado eu queria andar com ele, por outro crianças com rodinhas de apoio estavam nos ultrapassando.
Eu segurei os meus instintos e tudo estava indo bem e tranquilo. Bem tranquilo.
A cidade é linda e é uma delícia poder passar pelas ruas lentamente, observando os detalhes.
Nas esquinas monitores com bandeiras fazem os ciclistas espertinhos entenderem que a sinalização de transito vale para eles também. Só pode passar com o sinal verde.
No caminho a lanchonete Frutaria São Paulo é o ponto de encontro dos bicicleteiros. Som sucos naturais a preço de ouro e um estacionamento de bikes, fica lotado o dia inteiro.
Eu estava indo muito bem e comportada até encontrar uma linda descida, longa vazia, de cimento liso, que gritava “vem ni mim”. Sem nenhum carro ou bicicleta à vista. Foi mais do que a minha força de vontade podia aguentar. Gritei para o meu amigo que esperaria ele lá na frente e fui.
Deixei a bicicleta embalar sozinha, sem freio. Que delícia!
WEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
Depois disso eu peguei gosto pela coisa e passei na frente dele varias vezes. Fomos bem longe mas como o sol estava muito forte resolvemos voltar antes de chegar no parque Villa Lobos. E foi na volta que eu resolvi me acalmar e voltei a andar atrás do meu amigo.
Mas em um farol vermelho ele passou e eu fiquei para trás e o perdi de vista. Segui procurando ele, mas logo peguei outro farol.
Eu não sabia mais onde ele estava e comecei a andar mais rápido. Ele provavelmente ficou com raiva de mim por eu ser essa péssima companhia e se escondeu só para me sacanear. Ele é assim, do mal. :(
Fui andando cada vez mais rápido e nada de alcançar ele. Fiz todo o caminho de volta sozinha.
Vi as pessoas subindo da ciclovia da margem do rio Pinheiros pela escada.
Encontrei o SOS Bike, pronto socorro de bicicletas. São vários ciclistas contratados para ajudar e fazer pequenos consertos. Pedi para o moço arrumar a borracha do meu guidom.
Cheguei no Ibirapuera e fui até o fim da faixa. E não encontrei ninguém, nem amigo, nem aluguel de bicicletas. Fiquei rodando, indo e voltando e nada. Liguei para o meu amigo, mandei mensagem, e nada. Sentei e esperei, já estava cansada e com fome.
Depois de uma hora esperando ele dar sinal de vida comecei a ficar preocupada. Imaginei que talvez ele podia ter deixado o celular no carro, mas já tinha dado tempo de ele chegar até lá. Subi novamente na bicicleta e comecei a procurar por ele, achei que tivesse caído e batido a cabeça, talvez assaltado, talvez atropelado.
Refiz quase todo o trajeto, desesperada.
Pensei em voltar para casa, mas não sabia o que fazer com a bicicleta. Já eram quatro da tarde e eu estava desmaiando de fome quando tive a ideia de colocar a bicicleta no estacionamento da Frutaria e deixar ela lá.
Peguei um taxi para ir pra casa mas tive uma última idéia: olhar na carteira dele, que estava na minha mochila, para ver se tinha algum tiket das bicicletas com o endereço do lugar. Quando eu abri a carteira, o que estava lá? A chave do carro.
Fiquei ainda mais preocupada e pedi para o taxista procurar o tal aluguel de bikes. Mas ninguém conhecia essa porcaria desse lugar. Rodamos muito até eu desistir mesmo e ir para casa. A corrida de R$100. Cheguei pobre, com fome, preocupada e com as pernas ardendo por ter andado mais de 30km entre indas e vindas.
Assim que entrei em casa o meu telefone tocou:
– ONDE VOCÊ ESTÁ????
– ONDE VOCÊ ESTÁ???
Ele tinha pego um taxi até em casa para buscar a chave reserva do carro e estava muito puto comigo. Ficou ainda mais quando eu contei que tinha abandonado a bicicleta, que ele alugou deixando o RG.
Depois descobri que quando eu cheguei no Ibirapuera virei à esquerda, mas na verdade era para ter virado à direita (olhe a linha vermelha no mapa la em cima). Enquanto ele me esperava sentado no capô do carro eu percorria todas as ruas desesperada procurando o lugar certo.
Ele contou que perguntou no quiosque de aluguel se tinha aparecido uma moça assim assado, porque tinha se perdido dela, e o cara muito escroto respondeu que eu devia estar chorando em algum canto, porque mulher é assim mesmo. Meu amigo defendeu a minha honra e garantiu que eu era muito esperta e chegaria a qualquer momento.
Três horas depois o cara estava vitorioso, com cara de “muito esperta mesmo”.
Ele conseguiu voltar de taxi, pegar o carro, buscar a bicicleta que eu abandonei e devolver. Eventualmente cada um deu um jeito de comer. Sobrevivemos, ainda que traumatizados.
Quando avisei que ia publicar essa história, ouvi: “conta que você foi embora pra casa me deixando com fome, sede, sem dinheiro, sem a chave do carro e sem devolver a bicicleta, que estava alugada mediante meu rg preso”.
Mas eu queria contar também que estava o tempo todo com o meu telefone e que ele podia facilmente ter dado um jeito de entrar em contato, ao invés de simplesmente sentar e esperar, confiando na minha esperteza!
Resultado: ainda somos amigos, mas agora ele posta fotos de seus passeios na ciclovia no Face e não me convida mais.
Fica a dica, crianças:
- Leve uma mochila com água, carteira, celular e as suas chaves.
- Estude o percurso com antecedência.
- Se você e o seu amigo forem tontos, chame um adulto responsável para acompanha-los.
Apesar de ter ficado comovido, a história é excelente! E muito didática também! Valeu!
Obrigada, William!
Espero que você aprenda com meus erros :)
Bom post e belas fotos! :D Onde será que posso arranjar uma bicicleta decente para andar em São Paulo? Existem sites de venda online ou assim?
HAHHauhahuehe!! Muito legal a história e as fotos!